Como o BRICS lançará seu novo sistema monetário apoiado em ouro
A Aliança BRICS está a liderar uma agenda transformadora que visa recalibrar o sistema financeiro mundial.
Este movimento procura afastar-se do domínio predominante das moedas fiduciárias ocidentais, nomeadamente do dólar americano, em direcção a um sistema mais equitativo sustentado por activos tangíveis, como ouro e mercadorias.
As razões que impulsionam esta mudança são muitas, abrangendo o desejo de estabilidade financeira, desenvolvimento global equitativo e resiliência contra sanções unilaterais e políticas económicas consideradas insustentáveis.
Fundação da Visão Financeira Apoiada por Ativos do BRICS
No centro da estratégia dos BRICS está o desenvolvimento de um novo sistema financeiro e monetário que diverge do modelo de moeda fiduciária, que se baseia principalmente no crédito governamental e muitas vezes sujeito a pressões inflacionistas.
Em vez disso, os BRICS propõem um sistema baseado em activos tangíveis.
Esta iniciativa não é apenas uma resposta aos desequilíbrios económicos e vulnerabilidades inerentes ao sistema fiduciário, mas também um movimento estratégico para reafirmar a soberania sobre os assuntos financeiros nacionais e reduzir a dependência das instituições financeiras ocidentais.
A moeda proposta pelos BRICS seria duplamente apoiada: pelas moedas nacionais dos Estados-membros e por um cabaz de mercadorias, incluindo o ouro.
Esta abordagem visa proporcionar um meio de troca estável e fiável que reflita a produção económica real e as reservas das nações participantes.
A introdução de tal moeda baseia-se no direito internacional e em acordos mútuos entre os países interessados, garantindo uma base de legitimidade e benefício mútuo.
Como seria implementado este novo sistema financeiro e monetário?
A implementação deste novo sistema financeiro envolve vários passos fundamentais. Inicialmente, o sistema concentrar-se-á nas nações BRICS e incluirá potencialmente membros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO).
A infra-estrutura já está parcialmente instalada, com mecanismos como o SPFS (Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras) da Rússia servindo como alternativas aos sistemas ocidentais como o SWIFT.
A forma digital da nova moeda é crucial para reduzir os custos de transação e melhorar a acessibilidade fora do sistema bancário convencional.
Central para o sucesso do sistema será o estabelecimento de um mecanismo de câmbio estável, apoiado por um modelo matemático para garantir a sua sustentabilidade.
Isto requer a colaboração dos bancos centrais dos países BRICS para aprovar e adoptar a moeda para o comércio internacional, juntamente com a criação de moedas nacionais digitais que possam ser utilizadas sem problemas em transacções transfronteiriças.
Quais são os desafios no lançamento do novo sistema monetário?
No entanto, a concretização deste plano ambicioso enfrenta vários desafios. Em primeiro lugar, está a necessidade de um consenso político dentro e entre os países BRICS e os seus parceiros.
A relutância de alguns bancos centrais e funcionários governamentais, ainda alinhados com o paradigma tradicional do FMI, representa um obstáculo significativo.
Além disso, a tarefa de estabelecer um novo mecanismo de fixação de preços para produtos de base, livre da especulação ocidental, exige uma coordenação extensiva e a criação de novos quadros jurídicos internacionais.
Outro desafio crítico é a reforma das instituições financeiras existentes, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), para apoiar o novo sistema monetário.
Isto envolve uma mudança nas estruturas operacionais dos modelos fiduciários centrados no dólar para aqueles que podem acomodar e promover o crescimento da nova moeda dos BRICS.
Será que este novo sistema financeiro dos BRICS desencadeará um GCR?
Se os países BRICS superarem estes obstáculos e implementarem com sucesso o seu plano, o impacto no sistema financeiro global poderá ser profundo.
Um sistema monetário estável e apoiado por activos proporcionaria uma alternativa viável ao modelo de moeda fiduciária, conduzindo potencialmente a uma “redefinição monetária global”.
Esta redefinição desafiaria o actual domínio das moedas e instituições financeiras ocidentais, oferecendo aos países de todo o mundo um meio mais estável e equitativo de conduzir o comércio e as finanças internacionais.
Uma tal mudança poderia anunciar o regresso de um sistema financeiro global sólido, menos susceptível à manipulação pelas políticas dos bancos centrais e mais reflectido dos valores económicos reais das nações.
Estabeleceria também condições de concorrência equitativas para o poder de compra global, promovendo uma ordem económica internacional mais equilibrada e justa.
Em conclusão, a iniciativa dos BRICS de desenvolver um novo sistema financeiro e monetário representa um passo ousado no sentido de remodelar o cenário económico global.
O plano de implementação do sistema: passo a passo
Etapa 1: Acordo e Estrutura Legal
O processo começa com um acordo entre os países interessados, sustentado pelo direito internacional, para criar uma nova moeda. Este passo fundamental garante a legitimidade da moeda desde o início.
Inicialmente, nem todos os países seriam incluídos. Um foco nas nações BRICS, possivelmente expandido para incluir membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCS), seria suficiente.
Passo 2: Desenvolvimento de Infraestrutura
O desenvolvimento da infra-estrutura financeira necessária é crucial. Para a Rússia, por exemplo, isto inclui o seu próprio sistema de pagamentos semelhante ao SWIFT (SPFS), mecanismos de câmbio e relações de correspondência estabelecidas entre bancos.
Passo 3: Composição da Moeda
A nova moeda seria baseada num sistema de cesta dupla. Um cabaz conteria as moedas nacionais de todos os países participantes, semelhante aos Direitos de Saque Especiais (DSE) do FMI, mas com critérios mais transparentes. A segunda cesta seria composta por commodities.
A nova moeda funcionaria como um índice de mercadorias e moedas nacionais, apoiada por um mecanismo de reservas para garantir estabilidade e conveniência.
Passo 4: Implementação da Moeda Digital
A moeda deve ser introduzida em formato digital para facilitar as transações fora do sistema bancário tradicional, reduzindo significativamente os custos de transação.
A aprovação de todos os Bancos Centrais envolvidos é necessária para que a moeda seja utilizada como instrumento de transação.
Etapa 5: Mecanismo e Estabilidade de Preços
É essencial um novo mecanismo de formação de preços que evite as bolsas de mercadorias ocidentais. Isto envolveria um regresso a um sistema de acordos de longo prazo e fórmulas de preços estáveis baseadas na oferta e na procura, semelhantes às práticas durante a era da União Soviética.
Legislação para tornar obrigatória a negociação de mercadorias através de bolsas, por questões de transparência e para combater a manipulação especulativa de preços.
Passo 6: Apoio às Instituições Políticas e Financeiras
A proposta para a nova moeda e sistema financeiro precisa ser formalmente incluída na agenda das cimeiras dos BRICS, exigindo vontade e apoio político.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) poderia desempenhar um papel fundamental na organização de conferências internacionais e na elaboração de tratados internacionais para apoiar a introdução da moeda, enquanto se aguarda uma reorganização interna para se alinhar com este novo mandato.
Referência de apoio: https://sputnikglobe.com/20240228/rocky-road-to-dedollarization-sergei-glazyev-interview–1117034183.htm
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