sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O Poder do Mito - Joseph Campbell

Série de entrevistas com Joseph Campbell(1904-1987), famoso mitólogo norte-americano. Seus estudos independentes levaram-no a uma análise profunda das ideias do psicólogo Carl Jung e de Sigmund Freud. Altamente influenciado pela psicanálise Jungiana, Campbell escreveu em 1949, o livro "The Hero with a Thousand Faces"(O Herói de Mil Faces), que eu recomendo.

Essas entrevistas contém, de maneira resumida, boa parte do trabalho e mensagem de Campbell, mostra as conexões entre as diversas religiões mundo a fora, e busca compreender o porque de haver tantos mitos, e também o motivo pelo qual existem padrões que se repetem em diversas culturas, que até onde sabemos, jamais entraram em contato umas com as outras. Os motivos no caso, são nossos processos psicológicos e sentimentos que só podem ser transmitidos através de estórias. Determinadas conclusões podemos chegar apenas por experiência própria, os outros podem apenas nos indicar o caminho, você que precisa percorrer.

Mitos são indicadores do funcionamento da dinâmica da mente humana, a interação entre os diversos aspectos e arquétipos da psique, ou seja, as forças que operam em nosso mundo interior.
Na visão de Campbell os mitos não devem ser usados por instituições religiosas para manter as pessoas limitadas em um sistema de crenças especifico, devem ser usados comopistas que possam ajudar as pessoas a chegarem na experiência direta do "divino"(Gnose), aquilo que transcende o que é superficial.
Como diria Bruce Lee, "é como um dedo apontando para o céu, não se concentre no dedo, ou você vai perder toda a glória celestial". As pessoas tem a tendencia de focar nos símbolos em si, e muitas vezes acabam por esquecer seus significadossão é o que realmente importa.

As entrevistas de "O Poder do Mito" são divididas em 6 temas:

  1. A Saga do Herói
  2. A Mensagem do Mito
  3. Os Primeiros contadores de Histórias
  4. Sacrifício e Felicidade
  5. O Amor e a Deusa
  6. Máscara da Eternidade

Episódio 1
A Saga do Herói -- Muito antes dos cavaleiros medievais se encarregarem de matar dragões, os contos de aventuras heroicas já faziam parte de todas as culturas mundiais. Campbell nos desafia a ver a presença de uma jornada heroica em nossas vidas e destaca a importância da imaginação em nossa existência.




Episódio 2
A Mensagem do Mito -- Campbell analisa o que é o mito em si e para que serve. Também compara a história da criação do Gênesis bíblico com as histórias de criação no mundo de outras culturas. Por causa das constantes mudanças mundiais, a religião deve ser transformada e novas mitologias devem ser criadas. Hoje em dia, as pessoas se apegam a mitos que não lhes têm serventia alguma.






Episódio 3
Os Primeiros contadores de Histórias -- Campbell discute o papel do ritual de passagem nas sociedades primitivas, o papel dos Xamãs místicos e o declínio do ritual na sociedade atual.




Episódio 4
Sacrifício e Felicidade -- Campbell discute o papel do sacrifício no mito, que simboliza a necessidade do renascimento. Ele enfatiza a necessidade de cada um encontrar o seu lugar sagrado neste mundo tecnológico e acelerado.




Episódio 5
O Amor e a Deusa -- Campbell fala sobre o amor romântico, começando pelos trovadores do século 12 e o conto sobre Tristão e Isolda. Também questiona a imagem da mulher que, no tempo "pagão" era adorada como deusa, mas com o monoteísmo sua função e imagem mudaram drasticamente.




Episódio 6
Máscara da Eternidade -- Campbell proporciona visões interessantes sobre os conceitos de Deus, religião e eternidade, como foram revelados nos ensinamentos cristãos e nas crenças dos budistas, dos índios Navajo, Schopenhauer, Jung e outros. Foi sua última entrevista. Semana depois, Campbell vem a falecer.




Aproveitando o tema de mitologia, gostaria de destacar a importância de notar que um simbolo pode conter inúmeros significados, a nossa tendência de focar em apenas um é um dos motivos pelo qual as histórias mitológicas, símbolos diversos, e em especial o simbolismo do olho, foram e são tão mal interpretados.
O Olho em diversas culturas representa a consciência, o estado de observação plena, sem julgamentos, essa é a nossa essência, e não a estrutura mental a qual chamamos de "eu".
O dito "Olho que Tudo Vê" preso na piramide é uma representação do Observador, ou seja, a nossa consciência presa em nossas mentes, por isso vivemos limitados e não percebemos que somos UM com a existência em si, a Fonte/Deus/O Observador, que é a consciência criadora e que sustenta o Universo.

Algo similar é representado nesse antigo simbolo da Alquimia Mental, mas ao invés do olho é usado o circulo:

O Circulo representa o TODO, a consciência, o vazio no sentido em que é o espaço onde tudo existe dentro.
O Quadrado representa a matéria, o mundo físico e corpo físico.
O Triangulo representa a mente, que é uma estrutura hierárquica e dualista.

Ou seja, a consciência observando a mente, que é a estrutura criada para gerar a ilusão da matéria, e a consciência dentro da matéria. Portanto, somos O Observador ao mesmo tempo que somos a observação sendo feita. Esse é o segredo do auto-conhecimento: Toda percepção é realmente auto-percepção, porque você só pode reconhecer aquilo que está dentro de você
Somos a criação e os criadores da nossa realidade. Nós somos O Observador e a observação sendo feita, por esse motivo o simbolismo do olho foi tão difamado e distorcido, ele nos representa, representa a nossa consciência. A consciência unitária("Cristo"), é a que se vê como a totalidade, e não apenas como os fragmentos. O ego("Anti-Cristo") é a identificação com a consciência fragmentada, segregada, por isso ele gera divisão, separa em categorias, e exclui partes de si mesmo.

Essa obra ao lado é um bom exemplo de como os mitos representam o nosso mundo interior e os simbolismos recorrentes da dualidade existente em nossas mentes, a tendencia de classificar e separar em conceitos os eventos do mundo, as ideias e sentimentos que possuímos, e praticamente tudo que nossa percepção consciente capte. Não estou dizendo que isso é algo ruim, pois ruim faz parte da percepção dualista, estou apenas destacando que é uma tendencia, e não uma regra.

Um dos aspectos fundamentais a serem compreendidos é que a separação é somente uma ilusão - o externo é reflexo do interno. Toda a ignorância do mundo está dentro de cada um de nós. Toda a maldade está dentro do coração humano também. É muito fácil cairmos na crença de que o mal mora no coração dos criminosos, dos traficantes de drogas, dos terroristas, das pessoas de caráter duvidoso… Ou seja, que o mal mora no coração do outro. Esse é um dos pilares que sustenta a teia de ilusões. Tudo está dentro; aquilo que não está aqui não está em lugar algum. Nós somos cocriadores de tudo o que existe no mundo. Está tudo absolutamente relacionado. Somos um só. Somos um só na luz e um só na sombra.

"Você precisa levantar para si mesmo a questão "Quem sou eu?". Essa busca vai leva-lo a descoberta de algo que está atrás da mente. Resolva esse grande problema e você resolverá todos os outros problemas." 
— Ramana Maharshi

"Quem você é, é absolutamente inimaginável. Quando você parar de se imaginar sob qualquer forma, há uma revelação que nunca foi falada,
mas esta revelação é experimentada diretamente."
— Gangaji

Nas fotos são Sigmund Freud e Carl Jung
“É inteiramente possível que, por trás da percepção dos nossos sentidos, estejam escondidos mundos de que não tenhamos consciência.” 
— Albert Einstein

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