Você não tem fundos ilimitados. Gaste
seu dinheiro em coisas que a ciência diz que fazem você feliz.
Um dos pressupostos que mais ouvimos
falar é o de que o dinheiro é capaz de colocar ao nosso redor os estímulos
necessários para que sejamos felizes, principalmente objetos.
Esse texto eu vi na FastCo.Exist, uma divisão da revista FastCompany, uma revista
digital focada em inovação, tecnologia, ética econômica, liderança e design.
Ele explica de uma forma bem
interessante algumas das razões pelas quais pode ser melhor gastar seu dinheiro
em experiências e não em coisas.
* * *
A maioria das pessoas busca a
felicidade. Há economistas que pensam que a felicidade é o melhor indicador
para a saúde de uma sociedade. Sabemos que o dinheiro pode nos deixar mais
felizes, ainda que depois das necessidades básicas serem atendidas, ele não incremente
tanto assim nossa felicidade. Mas uma das grandes questões é como usar o
dinheiro, que (para a maioria de nós) é um recurso limitado.
Há uma pressuposição lógica que a
maioria das pessoas faz quando gasta dinheiro: que já que um objeto físico dura
mais, ele nos deixará felizes por mais tempo do que uma experiência temporária
como ir a um show ou um pacote de viagem. Uma pesquisa recente revelou que essa
pressuposição está completamente equivocada.
“Um dos inimigos da felicidade é a
adaptação”, disse o Dr. Thomas Gilovich,
um professor de psicologia na Universidade de Cornell que tem estudado a
questão do dinheiro e da felicidade por mais de duas décadas. “Compramos
coisas para ficarmos felizes, e isso funciona. Mas só por um tempo. As coisas
novas são excitantes no início, mas então nos adaptamos a elas.”
Em vez de comprar o último iPhone ou
um BMW novo, Gilovich sugere que obteremos mais felicidade gastando dinheiro em
experiências tais como visitar exposições de arte, fazer atividades na
natureza, aprender coisas novas ou viajar.
Os resultados obtidos por Gilovich
são a síntese de estudos psicológicos conduzidos por ele e outros cientistas
quanto ao paradoxo de Easterlin, que descobriu que o dinheiro é capaz de comprar a
felicidade, mas só até certo ponto.
Como exatamente a adaptação afeta a
felicidade, por exemplo, foi quantificado num estudo que pediu às pessoas que
elas mesmas relatassem sua felicidade com grandes compras materiais e de
experiências. Inicialmente suas felicidades com essas compras tinham,
pessoalmente, mais ou menos o mesmo valor. Mas com o tempo a satisfação das
pessoas com as coisas que compraram diminuiu, enquanto que a satisfação com as
experiências em que gastaram dinheiro aumentou.
É contraintuitivo que algo como um
objeto físico que podemos ter por muito tempo não nos deixe tão felizes por
tanto tempo quanto uma experiência única num momento no tempo nos deixa.
Ironicamente, o fato de que uma coisa material estar sempre presente opera
contra ela: é mais fácil que nos adaptemos. Ele se dissipa no meio das outras
coisas e se torna parte do nosso “novo normal”. Mas enquanto a
felicidade das compras materiais diminui ao longo do tempo, as experiências se
tornam parte de nossa identidade.
“Nossas experiências são uma parte
maior de nós mesmos que os bens materiais”,
diz Gilovich. “Você pode realmente gostar de suas coisas materiais.
Você pode até achar que parte de sua identidade está ligada a essas coisas, mas
ainda assim elas permanecem separadas de você. Em contraste a isso, suas
experiências são parte de você. Somos a soma de todas as nossas experiências.”
Um estudo conduzido por Gilovich até
mesmo mostrou que se alguém tem uma experiência que afirma ter impactado a
felicidade negativamente, quando a pessoa que viveu a experiência começa a
falar a respeito dela, sua avaliação da experiência sobe. Gilovich atribui isso
ao fato de que algo que pode ter sido estressante ou assustador no passado
acaba se tornando uma história engraçada para contar numa festa, ou que podemos
relembrar como uma experiência valiosa de formação de caráter.
Outra razão é que as experiências
compartilhadas nos conectam mais com os outros do que compartilhar o ato de
consumo, consumir a mesma coisa. Provavelmente nos sentimos mais ligados a
alguém com quem tiramos férias em Bogotá do que com alguém que por acaso também
comprou uma TV de 4K.
“Consumimos experiências diretamente,
junto com outras pessoas”, diz Gilovich. “E
depois que elas passam, se tornam parte das histórias que contamos uns aos
outros.”
E mesmo se alguém não está junto
conosco quando vivemos uma experiência qualquer, é muito mais fácil fazer
conexão com uma pessoa que também gostou de fazer a trilha nos Apalaches ou
esteve no mesmo show que a gente do que com uma pessoa que comprou o mesmo
celular.
Também somos bem menos dados a
comparar negativamente as próprias experiências com a de outras pessoas do que
comparar as compras materiais. Numestudo conduzido pelos pesquisadores Ryan Howell e Graham Hill descobriu-se
que é mais fácil comparar as características de bens materiais (quantos
quilates tem o anel? Qual a velocidade do processador do seu laptop?) do que
experiências. E já que é mais fácil comparar, as pessoas de fato fazem mais
isto.
“A tendência de olhar para a grama do
vizinho tende a ser mais pronunciada com relação a bens materiais do que com
compras de experiência”, diz
Gilovich. “Sem dúvida nos incomoda estar de férias e ver pessoas em
hotéis melhores, ou voando na primeira classe. Mas não produz tanta inveja como
quando ficamos para trás quanto aos bens materiais."
A pesquisa de Gilovich tem
implicações para indivíduos que desejem maximizar o retorno de seus
investimentos financeiros em termos de felicidade, para empregadores que
desejem uma equipe mais feliz, e para políticos que desejem cidadãos mais
felizes.
“Ao alterar os investimentos que as
sociedades fazem e as políticas que aplicam, podemos guiar vastas populações
para os tipos de buscas vivenciais que promovam maior felicidade.” escreveu Gilovich e seu coautor, Amit Kumar,
em seu recente artigo num periódico acadêmico, Experimental
Social Psychology.
Se a sociedade levar a sério essa
pesquisa, isso significaria não apenas uma mudança em termos de como os
indivíduos aplicam suas rendas pessoais, mas também faria com que os
empregadores concedessem mais férias remuneradas, e que governos cuidassem
melhor de espaços recreacionais.
“Enquanto sociedade, não seria melhor
tornar as experiências mais fáceis para as pessoas?" pergunta Gilovich.
publicado em 11 de Abril de 2015,
00:05
Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Volta e meia grava e disponibiliza no Soundcloud. Também escreve no Medium e em seu blog pessoal. Quer ser seu amigo no Facebook eInstagram.
http://papodehomem.com.br/a-ciencia-que-explica-porque-se-deve-gastar-o-dinheiro-em-experiencias-e-nao-em-coisas/
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